Ronco e Apneia

Introdução

Segundo a nova classificação internacional das desordens do sono, publicada pela American Academy of Sleep Medicine em 2005, existem mais de uma centena de desordens do sono descritas na literatura.
O ronco e a Síndrome da Apnéia/Hipopnéia do sono Obstrutiva (SAHSO) tem sido um assunto muito discutido no Brasil e no mundo na atualidade. É um fenômeno mundial. Sua prevalência tem sido relatada entre 20% e 30% das populações. É um problema que acontece principalmente em homens dos 20 aos 60 anos, numa proporção que chega aos 3 homens para 1 mulher.

Este problema além dos transtornos sociais e psicológicos, trás consequências físicas para o paciente. A SAHSO está sendo considerada hoje como a doença com maior número de comorbidades, algumas envolvendo alto risco de vida como as alterações homedinâmicas levando ao enfarto do miocárdio e aos acidentes vasculares cerebrais (AVC), podem interagir com doenças preexistentes favorecendo falências cardíacas e pulmonares. O paciente apneico tem em torno de 3 vezes mais chances de sofrer de hipertensão, arritmias cardíacas e infarto.

A sonolência diurna excessiva causada pela má qualidade do sono dos pacientes apneicos é responsável por um aumento de 7 vezes na possibilidade de acidentes de trânsitos e no trabalho. Recentemente o tratamento através de dispositivos intra-orais tem ganhado importãncia e credibilidade pelos especialistas do sono através das pesquisas que comprovam a eficácia dos dispositivos, que possuem características, diferentes dos aparelhos ortodônticos e ortopédicos, e do posicionamento correto do cirurgião dentista frente à multidisciplinaridade do problema.

A síndrome da Apnéia/Hipopnéia do sono obstrutiva

Reduzindo a poucas palavras a apnéia obstrutiva é um distúrbio respiratório do sono e é caracterizada pela cessação da respiração pelo bloqueio da passagem do ar pelo colapso entre a parede posterior da faringe, o palato mole e o dorso da língua.

A SAHSO caracteriza-se por deteriorar a qualidade de vida do paciente, tem como sintomas mais frequentes as cefaléias matinais, sonolência diurna excessiva, perda da capacidade de concentração e da memória, depressão, impotência sexual, refluxo gastroesofágico, hipertensão arterial e pulmonar e arritmias cardíacas. O ronco, geralmente, também deteriora a vida social e familiar do indivíduo.

Dentre os sintomas da SAHSO o que mais preocupa é a reação da concentração da Oxihemoglobina, ou dessaturação de O₂. Em alguns casos mais graves essa dessaturação, que geralmente deve ficar acima de 95%, pode chegar a níveis en torno de 70%, o que obriga o músculo cardíaco a trabalhar em sobrecarga, aumentando a incidência de doenças cardíacas, que podem levar a morte do pacientes.

O paciente portador da síndrome da Apnéia/Hipopnéia do sono Obstrutiva, geralmente apresenta algum dos sintomas aqui descritos.

Sintomas físicos

  • Ronco alto
  • Hipersonolência diurna
  • Sono agitado, geralmente insuficiente (não reparador)
  • Hipertensão arterial (pode ser apenas matinal)
  • Arritmia cardíaca
  • Cefaléia matinal
  • Noctúria
  • Impotência Sexual
  • Refluxo Gastresofágico Noturno

Sintomas Psicológicos

  • Irritabilidade
  • Mudanças de personalidade
  • Depressão
  • Redução da capacidade intelectual
  • Dificuldade de concentração

O que pode agravar

  • Obesidade
  • Idade
  • Álcool
  • Fumo
  • Fármacos
  • Alterações maxilo-mandíbular (boca)

Tratamento

  • Dispositivo intraorais – aparelhos bucais posicinadores (elaborados e orientado pelo cirurgião dentista capacitado em distúrbio do sono)
  • Procedimentos cirúrgicos
  • CPAP (Continuous Positive Air Pressure)

A escolha das opções de tratamento deve ser baseado na severidade da apnéia, nas condições clínicas do paciente, no grau de urgência do tratamento e nas preferências do paciente.

Diagnóstico

A eficiência dos tratamentos da Apneia e ronco com aparelhos está diretamente ligada as características do aparelho, e principalmente as características do paciente. A correta avaliação do paciente e a determinação dessas características, através do exame clínico pelo médico e pelo dentista,determinação do índice de Massa Corporal, teste de sonolência (Epworth), cefalometria e polissonografia, é que vão nos indicar, se o aparelho é o melhor procedimento para o paciente ou não.

A polissonografia é o exame que é realizado na clínica de sono, onde o paciente é monitorado por uma noite onde se medem diversos parâmentros como EEG, ECG, EOG e saturação do O₂ arterial. No diagnóstico da apnéia, a polissonografia é realmente indispensável, pois é ela que vai determinar a severidade da apnéia, através do índice de Apnéia/Hipopnéia (IAH), que é o fator principal na decisão de que o tratamento adotar, bem como fazer o diagnóstico diferencial entre Apnéia Obstrutiva e Central, SRVAS.

A avaliaçõa cefalométrica vai nos dar alguns indicadores da possibilidade de obter sucesso com este tipo de terapia, pela avaliação de fatores específicos como tamanho do palato mole, inclinação do Hióde, tipo e altura facial e relação das bases ósseas. Nesse tipo de tratamento, a relação médico/dentista como uma via de mão dupla é de especial importância. É importantíssimo que tenhamos uma visão multidisciplinar nas fases diagnósticas, pois um aparelho mal indicado pode ser extremamente prejudicial para o paciente, podemos estar subtratando o paciente eliminando o ronco, mas reduzindo de forma insuficiente a apneia.

O ronco e a SAHSO estão associados a diminuição do espaço aéreo superior, devido à redução do tônus muscular durante o sono. Sendo o ronco, sem dúvida, o sintoma que mais chama a atenção. O ronco é causado pela vibração dos tecidos da garganta, em função da turbulência do ar à medida que as vias aéreas se estreitam pode ser um sinal de apnéia, porém, nem todos roncadores são apneicos.

Modo de Ação

Os posicionadores mandibulares trabalham pelo avanço mandibular, através do qual afastam os tecidos da garganta e aumentam a tonacidade da musculatura da região, principalmente do geniglosso, impedindo que os tecidos da orofaringe colapsem, causando a apnéia/hiponéia. Eles tembém devem estabilizar a mandíbula impedindo que ela caia durante a noite, o que faz com que a língua se posicione posteriormente, invadindo o espaço aéreo.

Indicações

Eles são indicados principalmente nos casos de ronco primário, Apnéias leves e moderadas, IAH até 30, em pacientes retrognatas, não muito acima do peso, e como coadjuvante em outros tratamentos ou quando estes tratamentos não dão bom resultado.

Conclusão

Os aparelhos intra-orais (posicionadores mandibulares) para tratamento do ronco e apnéia do sono, quando bem indicados tem geralmente um índice bastante satisfatório de sucesso. Dentre os tratamentos não invasivos têm sido citados por diversos autores como eficientes e de fácil aceitação pelo paciente.